Foto: Jorge Bronzato Jr.
Congresso Brasileiro de Poesia
O casal literatura fala sobre a vida
Como palavras que se completam, Marina Colasanti e Afonso Romano de Sant’Anna destacam a relação entre os textos e o cotidiano
Jorge Bronzato Jr.
Ao abordar a relação entre a vida e a literatura, o casal Marina Colasanti e Afonso Romano de Sant’Anna parece estar escrevendo um novo livro, a quatro mãos e a duas vozes. Serenos, preenchem um ao outro com palavras exatas para explicar o que os leva a transformar em texto as experiências do cotidiano.
Os dois permaneceram durante toda a semana em Bento – cidade que já conhecem de outras viagens –, participando de atividades do 19º Congresso Brasileiro de Poesia, que neste ano homenageia Sant’anna e encerra hoje. Na tarde da quinta-feira, 6, no hotel em que estão hospedados, no Centro, dividiram a conversa para contar um pouco de sua trajetória e do horizonte de possibilidades que cada um enxerga frente ao desafio de escrever sempre.
Pela manhã, Sant’Anna havia visitado o Colégio Dona Isabel, e foi recebido com trabalhos dos estudantes sobre seus livros. “Faz uma diferença muito grande você ir a lugares onde já conhecem a sua obra. Essa homenagem que me fazem aqui já começou antes, seis meses antes, quando eles começaram a estudar meus textos. Foi uma coisa fantástica”, diz o escritor.
Marina destaca que, pelo envolvimento dela com a literatura infanto-juvenil, a proximidade com o ambiente escolar se torna frequente e representa um importante elo entre o autor e o leitor. “É muito bonito você ver o desdobrar do seu trabalho, ver que ele é uma peça dessa engrenagem enorme com que estamos tentando fazer um país leitor, um país menos desnivelado socialmente”, afirma.
Sant’Anna, por sua vez, entende que o acesso aos livros ganhou, nos últimos anos, um forte impulso no país. “Há muitos programas no Brasil incentivando a leitura, entre pescadores, favelados, dentro das tribos indígenas, quilombolas, enfim, em todas as classes sociais. A leitura entrou na pauta dos políticos e na pauta da sociedade civil”.
Inspiração e disciplina
Sobre os temas que inspiram os escritos, Marina ensina que é preciso saber que se pode e, principalmente, que se deve recorrer a todos eles. “Há temas eternos, que são aqueles ligados aos sentimentos e às grandes dúvidas, de onde viemos, para onde vamos, o que estamos fazendo aqui. Mas a modernidade é parte da vida e a vida é o tema quase único da arte. O artista trabalha com esse enfrentamento cotidiano do homem, através dos tempos”.
Os dois se consideram escritores disciplinados, mas confessam respeitar muito mais o tempo pessoal de cada um do que as demandas externas de mercado. “A mim ninguém cobra. Se eu não escrever, não escrevi. Quem me cobra, sou eu, o mercado não fica batendo à minha porta. A gente que se exige. Não é só o desejo de escrever, estamos traçando um painel. Para quem está iniciando, não, mas quando se tem tantos livros como nós temos, é um painel, é um conjunto que você quer completar, e ainda está faltando um pouco disso, ainda está faltando um pouco daquilo”, completa Marina.
Viver de literatura
Segundo Sant’Anna, os caminhos que o levaram, assim como à mulher, a viver da literatura vieram muito mais “da vida” do que de um planejamento pessoal. “Meu objetivo sempre foi fazer o que eu queria, e o que eu gosto de fazer é isso. Tudo que eu tenho devo à literatura”, revela.
Mas, para seguir em frente, Marina lembra que é preciso se esforçar para manter a vitalidade. “Quando você envelhece, há duas possibilidades. Você pode melhorar, porque você fica mais exigente, porque você tem mais conhecimento, domina melhor o seu fazer, ou você pode envelhecer o seu texto, perder a vitalidade. Na poesia, isso é muito visível. E o mercado pode atropelar ou te reverenciar, você nunca sabe exatamente o que vai acontecer”.
Durante o processo de criação, eles admitem como “normal” que um busque opiniões e sugestões a respeito dos textos em produção junto ao outro. “Às vezes, é aceita. Às vezes, não”, pondera Sant’Anna. “Ah, quase sempre aceita”, fala Marina. E o papo termina em um sorriso duplo.
Projetos
Em Bento, Sant’anna lançou “Sísifo desce a montanha”, seu mais recente livro de poesia. “Tenho outros seis programados para serem feitos, estou trabalhando neles há séculos”, brinca. Um deles, de crônicas, intitulado “Como andar no labirinto” já está com a editora.
Marina conta que está finalizando um livro de minicontos, e tem outro de contos de fada em andamento, além de estar com “projetos até o ano 3000”. “A poesia corre sempre paralela, nós estamos sempre trabalhando em um livro de poesia”, justifica.
O casal planeja ainda, para o ano que vem, lançar um livro com textos escritos pelos dois sobre Clarice Lispector.
*Publicado no Jornal Semanário, em 8 de outubro de 2011.
Grata Ademir por compartilhar e parabéns por teu empenho e talento é claro!
ResponderExcluirabraços de tua leitora, amiga e aprendiz,
virgínia fulber vicamf@yahoo.com.br
Novo Hamburgo RS BR
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