quarta-feira, novembro 16, 2011

Uma cena mágica – Por Rodney Caetano


Os dois únicos dias de minha participação no Congresso de Poesia de Bento Gonçalves, em cuja abertura tive a honra de falar sobre o homenageado do ano, Affonso Romano de Sant'Anna, me proporcionaram momentos marcantes. Quero agradecer a todas e a todos com os quais compartilhei aquele momentum: a conferência, os espetáculos, o bate-papo, as declamações, a poesia, enfim, tudo de bom. Divertido foi até o comércio informal de livros na base da venda, escambo, doação... Neste agradecimento, evito citar nomes porque certamente seria indelicado com alguém, que não é alguém, em absoluto, mas um alguém muito especial que eu acabaria esquecendo de mencionar.
Mas permitam-me referir uma cena mágica, simples, que presenciei ao lado de Affonso, Marina Colasanti e Cláudia Gonçalves, na quadra de esporte de uma escola, lotada de piás e gurias de seis, sete anos de idade, cena que, à minha revelia, juro, guardou-se-me na memória, indelével.
Acompanhado de outros artistas e poetas, Jiddu fazia a contação da história de um incerto pequeno polegar japonês e ensinava a pronúncia de termos esquisitos, "arigatô", "saionará", "sashimi", e outros, a toda aquela criançada. Nessa levada, lá pelas tantas, vinha um “Tzuka Yamazaki” ou saía outro "Akira Kurosawa". E a garotada repetia tudo certinho. Hilário. Puro gozo. Ria Affonso, ria Marina.
Em certo momento do show aparece um palhaço... "Olha o palhaço", grita a molecada. E o palhaço: "Onde? onde? Adoro palhaços". E eles: "Você é o palhaço!". E ele: "Eu não sou palhaço". Poesia.

O mundo ainda tem salvação - por Dalmo Saraiva


  Naquele ano que participei pela primeira vez do Congresso de Poesia em Bento Gonçalves-RS, eu já conhecia o Bacca, mas na verdade, acho, que ele não me conhecia. E eu fui acreditando no EVENTO porque ele já era famoso. Fui bem recebido e me inteirando na filosofia e proposta de trabalho. Daí por diante, cada vez mais, me integrando e sempre me perguntava por que em outros estados do Brasil não tem um projeto de tamanha importância como esse? Sim. Não tem porque não tem uma pessoa sonhadora e idealista como o Ademir Bacca. Pessoa séria e corajosa. Sim, porque para coordenar um bando de poetas de vários pontos do país e do exterior não é mole não.
  Aí quando cheguei nas escolas, vi o nível elevado de educação e pensei com os meus cabelos alvoroçados, taí, que coisa legal! Saía das escolas bastante feliz e compreendendo a proposta do Congresso. Depois fui para Hospitais Psiquiátricos, Hospitais Normais, APAE, Centros Culturais, Bibliotecas e demais lugares e até eventos em outras cidades como Farroupilha, Veranópolis, Serafina Correia e outras cidades... Todos esses lugares alargaram o meu horizonte e me deixaram bastante feliz. Todos esses lugares são especiais, inclusive as escolas, mas a APAE, sinceramente, é especialíssima. Lá sempre chegamos com um grupo muito grande e a emoção é imensa. É uma comunhão. Não dá nem vontade  de sair de lá. Aí me remeto ao meu mais longínquo lado infantil e a brincadeira vai fluindo.
Um grande aprendizado de vida e humanismo. Pessoal! O Brasil e o mundo precisam é disso: humanismo.
  Então, é isso que o Congresso Brasileiro de Poesia de Bento Gonçalves-RS, idealizado por um grande e corajoso guerreiro (da paz) chamado Ademir Antonio Bacca, me proporciona e me deixa mais íntegro como pessoa vivente nesse mundo tão conturbado e carente de tantas coisas. Mas o mundo ainda tem salvação.

quarta-feira, novembro 02, 2011

As vivas estátuas – por Marina Colasanti

Marina Colasanti e Marco Bahrone

Passei por ele várias vezes. Em meio à multidão, mantinha-se imóvel. À noitinha passei outra vez, estava de olhos fechados. Meu deus! -pensei - adormeceu! vai cair, se machucar! Mas não, tornei a passar mais tarde, o arcanjo dourado, belas asas, espada em punho, estava desperto e ainda imóvel. Era uma estátua viva.
Li um romance certa vez - esqueço o título e peço perdão- da escritora portuguesa Lídia Jorge, em que a personagem principal era uma estátua viva, um jovem apaixonado pelo seu fazer que, decidido a levar adiante o tempo da sua performance, aumenta o tempo de imobilidade minuto a minuto, um pouco mais a cada vez, até, de imobilidade, morrer. Essa história aflora em mim cada vez que me deparo com estátuas vivas, e me levou a vê-las com olhar inquieto, protetor, como se cada uma dessas pessoas imóveis em seus pedestais estivesse em risco. Risco de mover-se e estragar pose e trabalho, risco de não mover-se e ficar preso na pose para sempre.
Semana passada, porém, no XIX Congresso Brasileiro de Poesia, em Bento Gonçalves, a porta de um elevador se abriu, e dele saiu uma estátua viva em movimento. Era de bronze e levava um cajado na mão e uma sacola às costas. Ia para a praça, imobilizar-se. Na sacola, o seu pedestal. E estando ainda maleável o metal de que era feito, pareceu-me permitido interrogá-lo.
Bahrone – esse seu nome de arte – é estátua por fora e poeta por dentro. As suas estátuas variam, faz 14 diferentes, mas o poeta é sempre o mesmo. E se manifesta quando alguém deposita dinheiro a seus pés para, em troca, receber um poema. Bahrone então desce do pedestal e cheio de movimentos recita Shakespeare, ou Drummond, ou Pessoa, ou um dos tantos poetas  do seu repertório. Um repertório que, se declamado todo de uma vez, preencheria duas horas. É nesse caudal de poesia que Bahrone pensa enquanto está imóvel.
Trancado na estátua que escolheu, um poema atrás do outro fluem silenciosos debaixo da pele de bronze, da pele de prata, da pele de mármore ou ouro.
Quem passa, não sabe. Vai, volta horas mais tarde, a estátua está lá, devidamente estática. Parece a mesma, e não é. Por dentro dessa estátua, o poema que desenrola suas palavras como filme ou musica é outro, outra a época e a mão que o escreveu. A estátua só consegue manter-se imóvel porque viaja.
      Quanto tempo uma estátua viva agüenta ser estátua? O recorde mundial, de um irlandês, é de dez horas e vinte e dois minutos de imobilidade absoluta, sem qualquer interrupção. Olho esses dois minutos finais e estremeço. Um minuto a mais, me pergunto, o que teria provocado no organismo imóvel?

terça-feira, novembro 01, 2011

Sessões de autógrafos deram um brilho especial ao XIX Congresso Brasileiro de Poesia

Affonso Romano de Sant'Anna

Além dos tradicionais lançamentos das antologias oficiais do Congresso Brasileiro de Poesia, “Poesia do Brasil” (volumes 13 e 14) e “Poeta, Mostra a Tua Cara” (volume 8), neste ano as três principais livrarias da cidade receberam escritores para concorridas sessões de autógrafos. 

 Marina Colasanti

Na Aquarela, Márcio Borges autografou “Os Sonhos não envelhecem” e “O Canto do Pássaro-preto” (Blackbird Singing), de Paul McCartney, por ele traduzido para o português. 

 Márcio Borges autografou na Livraria Aquarela

Na Livraria Paparazzi, Affonso Romano de Sant’Anna e Marina Colasanti autografaram seus livros enquanto a Livraria do Maneco recebeu os escritores Airton Ortiz e Ronaldo Werneck.

 Ronaldo Werneck e Airton Ortiz

Na Adega Cachaçaria, onde aconteceram os lançamentos das antologias do Congresso Brasileiro de Poesia, Rodrigo Mebs autografou “Por amor ou por vício”.

 Rodrigo Mebs

Todos os lançamentos foram acompanhados por vinhos e espumantes da Cooperativa Vinícola Aurora.

Autógrafos das antologias oficiais

Mais uma vez valeu Bento Gonçalves!

Por RENATO GUSMÃO

Ao final do Congresso Brasileiro de Poesia do ano de 2010, já pairava uma certeza entre todos os artistas que participaram intensamente daquele belíssimo encontro. Também como todos os outros em que participei desde 2008, ficou o intenso gosto do quero mais – A verdade é que muitos já haviam decidido seus retornos à charmosa cidade de Bento Gonçalves – RS para o reencontro com a poesia no começo de outubro de 2011.
O homenageado da XIX edição ainda não sabíamos, pois, dessa parte, sempre nos vem a surpresa, e antes do meio do ano, o nome já era revelado, porém, com uma grata euforia, pois, o anunciado, nada mais, nada menos era o consagrado escritor Afonso Romano de Sant’Anna e em sua companhia evidentemente sua esposa a também escritora Marina Colasanti, ambos, com grande atuação até o final do evento, ora lançando livros, ora palestrando ou assistindo recitais, em sobejante elegância, humildade numa discretíssima e imensurável nobreza artística.
Outra surpresa nesta edição do congresso foi a participação de um dos maiores compositores da MPB o mineiro Marcio Borges e que levou com ele todo o mistério revelado do Clube da Esquina. Mais uma surpresa: agora, falo do gaúcho Colmar Duarte, poeta, compositor letrista, e que foi patrono da XXVI Feira do Livro de Bento Gonçalves, esse que se fez presente com sua inteligência; ensinava a todos, inclusive para seus conterrâneos o modo cultural da fronteira gaúcha, e eu tive o privilegio de conhecê-lo e conversamos muito, logo no aeroporto de Porto Alegre, quando aguardávamos o translado a Bento. Daí foram chegando poetas, atores, fotógrafos, jornalistas com eles os abraços do reencontro, palavras poéticas acumuladas dentro da saudade, risos e novidades.
Também para representar o Estado do Pará juntamente comigo e levando seu recital solo Tambores do Meu Peito, o Congresso contou pela primeira vez com a participação do poeta Rui do Carmo que com sua simpatia foi logo agradando a todos através de sua poética que corre em suas veias feito braços dos rios da Amazônia.
Eu juntamente com o eletrizante poeta curitibano Rodrigo Mebs, ajustávamos o nosso brasildepontacabeça, recital que nos deixou em êxtase todas as vezes que apresentávamos nas escolas de Bento Gonçalves. Na via do destino da poesia ganhamos o reforço da talentosa e cativante May Pasquetti. Rodrigo Mebs, ainda lançou seu primeiro livro, Por Amor ou Por Vício, durante o Congresso, em noite de grande emoção.
Ainda tivemos o Quarta Capa, projeto de Jiddu Saldanha em homenagem ao poeta Mano Melo esse que participou encantando com sua declamação visceral. A apresentação do Grupo Tata Mirô do Amapá; do projeto Torre de Babel de Artur Gomes; lançamentos dos livros de Airton Ortiz e Ronaldo Wernek; apresentação do vídeo poema de Flavio Pettinichi. .
São tantos amigos que já conquistei por causa desse grandioso acontecimento que ao término de cada temporada chega a lembrança de cada um com esperança imensa do reencontro no ano seguinte: Cacau Gonçalves, Rodrigo Mebs Jorge Ventura, Fátima Borchert, Maria Clara Segóbia, Tanussi Cardoso, Jiddu Saldanha, Artur Gomes, Edmilson Santini, Isolda Marinho, Gabriel Marinho, Telma da Costa, May Pasquetti, Dalmo Saraiva, Fernanda Frazão, Eduardo Tornaghi, Andréa Motta, Ronaldo Wernek, Airton Ortiz e tantos outros poetas queridos, também os funcionários do hotel Vino Cap que nos recepcionam com tanta atenção, os amigos Zeca, Luiza e Izadora Zecchin da Cachaçaria Agenda.
Afirmo com toda certeza que o Congresso Brasileiro de Poesia em Bento Gonçalves-RS tem a cara de todos os poetas, artistas e amantes da poesia que dele participam, sim, por causa da resistência de seu idealizador e coordenador Ademir Antônio Bacca, nada disso aconteceria se não fosse a dedicação e o amor pela arte à poesia que em dezenove anos faz esse sonho contínuo ser real.
Mais uma vez valeu Bento Gonçalves!

POETAS SELECIONADOS NO PROJETO POESIA NA VIDRAÇA / 2011


Affonso Romano de Sant’Anna • Rodrigo Mebs • Wilson Dias • Jacob Armando Selbach • Dalmo Saraiva • Silvio Ribeiro de Castro • Ademir Antonio Bacca • Renato Gusmão • Vânia Gondin • Regina Mello • Eunice Arruda • Rubens Venâncio • Oscar Bertholdo • Ferreira Gullar • Janete Nodari • Luis Edmundo Alves • Tchello d’Barros • Celina Portocarrero • Marisa Ly • Ricardo Evangelista • Klycia Fontenelle • Jair Yanni • Haidê Vieira Pigatto • Bárbara Lia • Herbert Emanuel • Ricardo Mainieri • Jorge Amâncio • Alexandre Misturini • Heralda Victor • Mário Feijó • Wilson Guanais • Adão Wons • Fátima Venutti • Valéria Borges da Silveira • Sonia Albuquerque • Ronaldo Werneck • Jorge Ventura • Valeria Tarelho • Suely de Freitas Marti • Thiago de Mello • Monica Montone • Claufe Rodrigues •  Eduardo Tornaghi • Edival Lourenço • Renato Alvarenga • Astênio Fernandes • Andréa Motta • Zé Carlos Batalhafam • Laura Esteves • Angela Carrocino • Telma da Costa •  Alcione Sortica • Djanira Pio • Ricardo Alfaya • Artur Gomes • Mario Quintana • Brita Brazil • Rita Velosa • Claudia Gonçalves • Nálu Nogueira •

Ps. Foram selecionados apenas poemas que chegaram à Coordenação do Evento até o dia 23 de Setembro e tinham no máximo dez linhas.