segunda-feira, novembro 26, 2007

Eunice Pigozzo, Ademir Bacca, Emira Dendena, Moisés Scussel Neto e Jaury Peixotto
CONGRESSO BRASILEIRO DE POESIA ENTREGA
ANTOLOGIAS PARA ESCOLAS

O Proyecto Cultural Sur/Brasil encerrou oficialmente as atividades do XV CONGRESSO BRASILEIRO DE POESIA com a entrega de 2.500 exemplares de antologias publicadas às escolas de Bento Gonçalves. O ato aconteceu na manhã desta quarta-feira nas dependências da Biblioteca Pública Castro Alves e contou com a presença do prefeito em exercício Jaury da Silveira Peixotto, da presidente da Fundação Casa das Artes, Emira Treméa Dendenda, do Secretário Municipal de Governo, Moisés Scussel Neto, da Diretora da Biblioteca, Eunice Pigozzo e do presidente do Proyecto Cultural Sur/Brasil, Ademir Antonio Bacca.
Na oportunidade foram entregues 700 exemplares de cada um dos volumes 5 e 6 da Antologia "Poesia do Brasil", 500 exemplares da Antologia "Poetas do Café e Pássaros-Poetas", além de 200 exemplares da antologia "Contos Mínimos, Idéias Máximas" e mais 400 exemplares de volumes de publicações da edição anterior do evento, que ainda estavam em poder dos organizadores.
Na oportunidade, o prefeito em exercício destacou a importância do projeto "Poesia na Escola" que é desenvolvido pelo CONGRESSO BRASILEIRO DE POESIA, afirmando que esta nova doação de livros será de grande valia para que os estudantes de Bento Gonçalves possam conhecer a obra dos poetas que costumam participar do encontro que é realizado anualmente em nossa cidade.
Caberá agora à Biblioteca Castro Alves coordenar a distribuição dos exemplares para todas as escolas do município, inclusive as da rede particular.
O presidente do Proyecto Cultural Sur, coordenador geral do Congresso Brasileiro de Poesia, anunciou que foram reservados ainda 150 exemplares de cada uma das publicações para serem distribuídos durante o lançamento oficial da Feira do Livro de 2008, que deve ocorrer no início do próximo ano.
Ao todo, desde o lançamento oficial durante o XV Congresso Brasileiro de Poesia, 2.800 exemplares das três antologias foram distribuídos gratuitamente, devendo atingir um universo de mais de 25 mil leitores.

quinta-feira, novembro 15, 2007

Baco em Bento:
íris, retinas
viu o mar
e sssssilva
assim
o poeta joaquim
íris, retinas!
íris, retinas!
que viva joaquín!
joaquim palmeira
de minas

Corre assim o poema que escrevi há cerca de um mês em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha. Escrevi e falei com todas as suas “íris, retinas” no palco da Fundação Casa das Artes, no encerramento do Encontro Internacional de Poesia. Homenagem ao belo poeta mineiro Wilmar Silva, que acabara de trocar seu nome para Joaquim Palmeira. Fatos de família, troços atávicos. Coisas de poeta. E pronto e ponto. “Íris, retinas, olhos meus olham íris, retinas/olhos que cerram íris, retinas, olhos de vênus”, diz Palmeira em seu ótimo “Estilhaços no Lago de Púrpura”, lançado no inverno de 2007 em Belo Horizonte pela Editora Anome Livros. Ainda sob a grife Wilmar Silva. “Nunca me esquecerei desse acontecimento/na vida de minhas retinas tão fatigadas”, pensava eu, junto com Drummond. Nunca me esquecerei das palmeiras reinventadas por mestre Joaquim, que viu o mar assim, com suas íris, retinas: “uma patativa, um sol aceso em noite plena/eu/agora o que faço com íris, retinas, olhos:/ hei de cerrar as pálpebras e inventar íris,/ retinas, olhos que sejam íris, retinas, olhos/você com suas íris, retinas, você com olhos/ que me olhem e descubram íris, retinas”.
Íris, retinas: vários poetamigos a almoçar em torno de mesa imensa. Íris, retinas: Bento Gonçalves, 06 de outubro de 2007 – XV Congresso Brasileiro de Poesia e III Congresso Internacional Proyecto Sur. Modestamente, o poeta este comemorava naquele dia-mo(nu)mento suas duas décadas sem álcool, eu que durante anos movido fora por ele. Claro, com um porre homérico do melhor suco de uva da Serra Gaúcha: Granja Cacequi, Adega Cavalleri – que textura, que quase tontura! Mo(nu)mento solene onde absolutamente todos os poetas presentes largaram suas taças de vinho e nos juntamos num poderoso “tintim sucal”. Coisa de macho, tchê! Evoé, meu caro poeta Ademir Bacca, criador & mestre da mostra. Evoé – que Baco é uva, Bacca. Suco também. Evoé, você – que nos levou na véspera ao Vale dos Vinhedos, em memorável excursão “etílico-suquista”, ao lado dos bravos & performáticos mineiros: Luiz-poeta-e-tanto-Edmundo, Joaquim-íris-Palmeira-retinas e de Bilá Bernardes; e do poetator & videomaker carioca Artur Gomes e da também cariocantora Telma da Costa. Na mesa de agora somam-se o performático poeta Carlos Gurgel, vindo de Natal; o visual Hugo Pontes, a poesia de Poços com suas muitas Caldas; os paulistas Rogério Santos e Val Rocha e meu caríssimo poeta-mímico, videomaker & agitador cultural Jiddu Saldanha.
E mais, muito mais poetas e mais poetas que “invadiram Bento Gonçalves, tomaram a cidade”, dizia a cidade, a própria, num só poema a boca não muito pequena. E que circulam com suas falas Bento afora: dali mesmo surgem os jovens poetas Alex Barros e Ricardo Carvalho; do Rio, Luiz Prôa, a quilha em riste; Rubens Venâncio, poeta-psiquiatra, agora juizforano. E o camaleão Claufe Rodrigues; e o poeta-clown Glauter Barros; o cordelista Edmilson Santini; o peruano de timbre caro Oscar Limache; a surpresa rara, uruguaia, de Rachel Martinez: “Apaga mis voces interiores,/esta sed de milagros, /este predestinado afán/de catarte ingrávido/floreciendo mi cuerpo,/donde nasce la gesta./Contengo el aliento/y almaceno tu vino,/para que sereno fermente/en la cava de roble/de mi fecundo vientre”.
Evoé também para os mexicanos do “El Tambache de Rolas” (Francisco Saucedo, Andrés Quintero e Miguel Pineda) e a turma carioca do “Poesia Simplesmente”, que levou ao Sul um belo espetáculo sobre Manuel Bandeira, dirigido por Mônica Serpa. Evoé para os mais que simplesmente poesia: Ângela Carrocino, Dalmo Saraiva, Delayne Brasil, Jorge Ventura, Laura Esteves, Rosa Born, Silvio Ribeiro de Castro. E para as menimulheres da “Confraria das Borboletas”, de Porto Alegre, trazendo ao palco poemas de várias poetas (inclusive, para minha surpresa, da cataguasense e altaneira e querida amiga Celina Ferreira). Ah, evoé também – e com todas as íris, retinas – para as meninas. As meninas-mais-que-poetas & seus nomes-renome: Cláudia-Cacau Gonçalves, Andréa Motta, Mônica Montone, Marisa Ly, Walnélia Pederneiras, Maria Clara Segóbia, Fátima Borchert, Lu Oliveira, Chris Herrmann, Delasnieve Daspet, Jane Pimentel, Joyce Krischke, Fernanda Frazão, Iara Pacini, Jane Brandão, Ieda Cavalheiro, Isnelda Weise, a chilena Irem Toal e quem mais vier – se mais belos-estranhos nomes houver.
Evoé ainda e sempre, suco de uva à mão, para o meu caro Manolo Tricalloti, antenado artista plástico chileno-equatoriano, e para os fotógrafos mexicanos Ivan Gomes Ortiz e Juvencio Larrañaga Aguilar (“Vamos ao Casino! Si, si, y vamos ao Casino!”). E mui particularmente para a décima-primeira musa-mulher deste poeta sucrilista e never de néveres etílico, a bela brasiliense muito-demais Adriana Vieira de Moraes. Todos esses bravos companheiros mais que assíduos de várias noitadas na Serra. E flanando e flanando e falando e falando poemas e mais poemas peripatéticos pelas ruas de Bento, pelas escolas, bibliotecas e até mesmo no presídio local (onde obtivemos, segundo as más línguas, nosso melhor público, o mais cativo: ninguém sequer ousou sair no meio de nossas apresentações). Evoé, que eu volto. Que voltamos todos no ano que vem, num só (as)salto poético, num só vôo – aves, aves! – sobre as serras e ruas de Bento Gonçalves. E “Salve, salves/Bento G”, como diria o poeta moderno – aqueloutro hodierno e muito douto que não rima nunca, nem numa espelunca: aqui e ali com seus pobremas, seus poemas de mão única. Sim, sim: tintim!

© RONALDO WERNECK
OVERDOSE POÉTICA

© LUIZ FERNANDO PRÔA

Fazer um evento de poesia, juntar mais de uma centena de artistas, a maioria poetas, para a celebração da arte durante uma semana, não é tarefa fácil. Reunir poetas de vários países e de diferentes estados do Brasil, na Serra Gaúcha, mais precisamente em Bento Gonçalves, já seria uma proeza. Mas fazer isto 15 vezes, cada uma com mais sucesso que a outra, é tornar este feito em algo mágico, pura poesia.
E realmente quem esteve presente nesta XV edição pôde captar a magia que vibrou no ar naquele momento. Poesia por toda parte, nas praças, calçadas, vitrines, nos colégios, hospital, presídio, APAE. No Sesc, na Prefeitura, na Fundação Casa das Artes, na Biblioteca Castro Alves, na Via Del Vino, em restaurantes e onde mais fosse possível. E não só poesia, também música, ciranda, artes plásticas, fotografia, teatro, performances, debates.
Contudo o que mais brilhou neste contexto foi o fator humano. Artistas conectados ao belo, à paz, ao amor, recepcionados por um povo educado, gentil e apreciador da arte.
E o que não faltou nestes dias foi amizade, ternura, carinho e trabalho, muito trabalho, mas sempre com prazer.
O XV Congresso Brasileiro de Poesia foi muito mais que um espetáculo. Para nós poetas foi vivência, troca, intercâmbio e estreitamento de relação entre amigos (muitos dos quais antes amigos virtuais).
Maravilha! Uma semana de overdose poética temperada com música, teatro e outras artes. A poesia estava viva e a alma repleta do que há de bom. Sorrisos, gargalhadas, emoções à flor da pele, algumas lágrimas e muitos, muitos aplausos. Fica aqui o meu aplauso ao talento dos artistas, à cidade que tão bem nos recebeu, aos patrocinadores e apoiadores que tornaram viável o Congresso e à competência do maestro, Ademir Antonio Bacca, que regeu esta “Orquestra de Babel” e carregou o piano nas costas, com seriedade e virtuosismo.
Se durante estes 6 dias houve realmente um reino chamado Poesia, devemos reverenciar o rei, nosso amigo e poeta Bacca.

UMA PASSÁRGADA DE ABRAÇOS E SAUDADES

© CARLOS GURGEL

Estive ausente de Natal por 15 dias, participando de encontros com a poesia.
Primeiro, em Bento Gonçalves, RS, entre 1 à 6 de outubro, no XV Congresso Brasileiro de Poesia, onde conheci poetas brasileiros, chilenos, peruanos, mexicanos, alemães, canadenses. Ao todo, 176.
Diariamente tínhamos compromissos com recitais, debates, mostra de vídeos, música latina, programações em auditórios.
Uma das programações mais interessantes foi me integrar aos saraus em escolas públicas. Lá, uma platéia entusiasmada e receptiva, estava sempre atenta aos gestos e palavras dos poetas convidados. Por tres vezes dela participei.
O organizador do evento, Ademir Bacca, gaúcho, incansável defensor de um espaço que congregue e celebre versos e visões, acolheu a todos, com sua fidelíssima maneira de ser: acompanhando passo a passo todas as atividades, com ânimo e satisfação pelo que se propôs a realizar.
Assim, revi amigos poetas: Artur Gomes, Wilmar Silva (agora, Joaquim Palmeira), o impagável Dalmo Saraiva, Glauter Barros, Bilá Bernardes, poetas iluminados pela chama da sedução e pelo labirinto da lanternas verbais.
Conheci a minha incentivadora gaúcha, Cacau Poeta, que me fez acreditar que é possível sonhar com mais platéias e desejos. Mais: Luís Edmundo, de alteRosa poesia, Barhone, Lúcia Gonczy, meiga e solidária, Jiddu Saldanha, Luis Prôa, poeta carioca, incansável descobridor das alegrias que sedimentam amizades e leitores. E do Ronaldo Werneck, Cataguases, MG, um poeta porreta e paladino de conquistas das moças que bailam por entre seus versos e lentes. Da Mariynês Bonacina, de uma doce e inquebrantável beleza. Do ícone Hugo Pontes, poeta visual, experimental, vanguardista. De Walnélia Pederneiras, leve como uma pluma, forte como um poema para sempre ser lembrado. Do Alex, jovem poeta gaúcho, que se faz declamar com seus eus e sangues. E da incomparável menina, bela e musicista, a chilena Mariana, com seus dezoitos anos e um violino que apaixona e se perpetua.
E andei pelas ruas de Bento, maravilhado com a beleza das suas mulheres, como um caleidoscópio de infinito\n hipnotismo e sinfonia. Convivi com suas noites frias e incessantes. Com suas rodas de poesia, lançamentos de antologias e descobertas de promessas e reencontros. Como uma grande casa que abriga nuvens e céus e de uma luz que se esconde por trás da esperança. De abraços e saudades. De chimarrão e a vontade de não calar. De delírios e silêncios. Atmosferas de palcos e risadas inquebrantáveis. E quando no último dia, onde plantamos uma árvore, e cada poeta, depositou entre suas raízes, o seu chão. O meu, foi um pouco da terra da casa de Cascudo, com o crivo de Ana e Camilo. Assim foi Bento. Bendita e sortida. Cidade real dos nossos verbos mundanos e borrifados pela atmosfera de uma terra acolhedora e querida.


POESIA GOIANA NA SERRA GAÚCHA

© AIDENOR AIRES*

Serra Gaúcha. Quase Europa. Primeiro mundo nosso. Ali se esquece as favelas, as hordas miseráveis que os políticos vão mantendo em regime de cestas básicas, para que possam continuar comendo caviar e bebericando uísque. Na Serra a paisagem deslumbra. O planeta continua bailando no orgasmo original. Terra querendo nuvem e azul querendo o verde.Vontade de gritar feliz e abraçar. De dois a sete de outubro realizou-se em Bento Gonçalves, de heróicas memórias farroupilhas, o XIV Congresso Brasileiro de Poesia, o XIV Encontro Latino-americano de Casas de Cultura e a XI Mostra Internacional de Poesia Visual. Esses eventos fazem parte do Proyecto Cultural Sur-Brasil que tem como timoneiro o poeta Ademir Bacca. É o responsável ou facilitador de todas as edições desses eventos. O Congresso sempre contou com a participação dos goianos. Desta vez, na antologia “Poesia do Brasil”, lançada durante o evento, comparecem onze, entre os 33 participantes. E lá estávamos, presentes ou em saudade: José Mendonça Teles, Luís de Aquino, Sônia Ferreira, Célia Siqueira Arantes, Elizabeth Caldeira, Geraldo Coelho Vaz, Alcione Guimarães, Aldair Aires, Edival Lourenço e este cronista. Foram dias de grande atividade cultural, envolvendo as escolas, a comunidade. As vitrines das lojas, os pisos dos teatros, em todos os lugares, textos poéticos. Nas praças, recitais. Pelas ruas, salões, bibliotecas, performances e shows. Lugar propício à liberação da alma no milagre da linguagem. A genialidade interpretativa do poeta e ator Gidu Saldanha. Célia Siqueira, de interminável juventude, declamando pelas praças. José Mendonça, de tantas artes, levantando cantos de amor, até receber uma homenagem como o Pioneiro e presença constante do Congresso. Emocionados, bebemos um pouco da glória de nosso historiador e poeta. Mas não se pode esquecer o recital “Cantares da América”, com Beth Araújo, “A Voz dos Povos”, com Claufe Rodrigues e Mônica. Maria Pompeu. “Torre de Babel”, apresentado por Artur Gomes. Lá estavam os goianos deitando falas. Mais os “Poetas na Escola”, as homenagens ao centenário de Quintana. Artes Plásticas, teatro, música e poesia, sempre poesia, de todos os estilos. Da silenciosa proposta do poema visual de Hugo Pontes, ao cordel de Edmilson Santini. Da contida e profunda palavra de Cristiane Grando, ao lirismo de Andréa Motta, à telúrica energia da peruana Glória Dávila. Gilberto Maha, iluminado na neblina da Serra. Wilmar Silva universalizando cantos de Minas. Tanta gente. Tanta beleza, tanta poesia. No próximo Congresso, lá estaremos celebrando a vida, recolhendo o humano escondido nas solidões de cada um de nós. Vida longa ao poeta Ademir Bacca! Ele vai tornando este mundo um lugar ainda possível de habitar. Faz da Serra Gaúcha um lugar de encontro de todas as vozes. Um Mercosul espiritual, onde as mercadorias de troca são a inspiração, a beleza, o talento e os abraços.


*Aidenor Aires é escritor, da Academia Goiana de Letras