quinta-feira, abril 17, 2008


“Oh! Bendito o que semeia livros, livros a mão cheia...”

Catulo Fernandes


Os versos do poeta Castro Alves que dão título a este texto retratam com precisão a importância de quem escreve e daquele que oportuniza o contato com a literatura. Com este propósito de estimular a leitura o Proyecto Cultural Sur/Brasil iniciou uma parceria com a Casa do Poeta de Camaquã (CAPOCAM), durante XII Semana da Poesia.
A poeta Cláudia Gonçalves, coordenadora do Proyecto Cultural Sur/Brasil (Projeto Livro na Escola) juntamente com a presidenta da CAPOCAM, Erotildes Citrini, o vice-presidente Onélio Lopes Chagas e a artesã Guel Fernandes, esteve em duas escolas na zona rural: Rui Barbosa e 15 de Novembro, e três na área urbana: Mahatma Gandhi, Marina de Godoy Netto e Ana Tomázia Ribeiro.
Conforme a ativista, a iniciativa que contou com o apoio do Congresso Brasileiro de Poesia e da Editora Alcance deve ter continuidade, e durante o ano outras escolas também receberão doações.
O objetivo do projeto não é somente entregar livros. Em todos os educandários houve uma integração com alunos, professores e diretores, que participaram de uma roda de poesia. Neste sentido o papel da Secretaria Municipal de Educação foi fundamental preparando as escolas para receber os poetas. Segundo Cláudia, todas as escolas visitadas demonstraram que a leitura está sendo trabalhada em sala de aula, e citou como exemplo a escola municipal Rui Barbosa, que este ano realiza seu 5º recital de poesia. ”Foi um presente atuar neste projeto com a CAPOCAM. Percebi que esta entidade está preocupada com a cultura coletiva, e não na promoção individual de seus autores. Em Camaquã se cultiva poesia”, ponderou.




Fernando Pessoa:
Alguém melhor que Ele mesmo

Brasigóis Felício


“A constituição do seu espírito condenara-o a todos os anseios. A do seu destino, abandoná-los todos”. A aparente oposição entre destino e espírito em uma só pessoa é um truque ou recurso estilístico inerentes à personalidade pluriforme de Fernando Pessoa. Tal frase está entre os papéis guardados no baú do grande poeta lusitano – assinado por Bernardo Soares, um de seus semi-heterônimos, tem trechos em que o escrevente entra em litígio direto com Fernando Pessoa-Ele mesmo. Falarei disto mais adiante.

Antes, atenho-me a tecer considerações sobre este abandonar-se do destino que lhe coube (Bernardo Soares, ou Pessoa?) deveu-se ao desassossego de viver, que parece ter sido inerente aos dois. Isto Fernando Pessoa Ele mesmo já declarava, em sua estética da abdicação: “conformar-se é submeter-se e vencer é conformar-se, ser vencido. Por isto tora vitória é uma grosseria. Vence quem nunca consegue. Só é forte quem desanima sempre. O melhor e o mais púrpura é abdicar”.

Estranhamente (mas não para Fernando Pessoa) estas reflexões vão na contra mão dos livros de auto ajuda, que tanto bebem, rebuscam e até mesmo manipulam e distorcem as palavras do poeta, a ponto de as tornarem lacrimosas ou simplesmente ridículas. Crime de lesa-autor de que também são vítimas freqüentes Carlos Drummond de Andrade e Mário Quintana, de quem se vê na internet, em PPS melodramáticos, risíveis e até mesmo caricatos – diante dos quais nossos aclamados bardos cometeriam suicídio – se é que não estão a imprecar e deblaterar, do lugar (penso que bom) para onde foram (?) suas almas ímpias, porém piedosas.

Palavras estas, inscritas no Livro do Desassossego, do semi-herterônimo Bernardo Soares, que se contrapõem às de Fernando Pessoa-Ele Mesmo, ao se pronunciar sobre o sentido (ou ausência de) do fazer que, se não resultou em dinheiro, garantiu-lhe glória póstuma. Pois Pessoa assim via o sentido de ser poeta, neste grande e estranho mundo, em que tudo é comprado e vendido, e tem valor assegurado, menos as palavras dos alquimistas do Verbo: “Cumpri, com meu dever, o meu destino ao mundo. Inutilmente? Não, porque o cumpri”.

Aqui Fernando Pessoa-Ele mesmo entra em contradição com o que afirma Bernardo Soares. Se para este “só é forte quem desanima sempre”, e o “melhor é abdicar”, tanto de espírito quanto do próprio destino, para o Outro (na verdade, seu inventor), “Tudo vale a pena/se a alma não é pequena”. E o que importa não é angariar vitórias ou sofrer derrotas, mas cumprir o destino que nos trouxe ao mundo. Talvez as palavras de Joseph Campbel, um mitólogo nosso contemporâneo (um dos mais brilhantes, por sinal) contribua para fazer avançar em síntese a polêmica (aparente oposição) na obra múltipla, ambígua e universal do vate lusitano: “Qualquer mundo é um mundo vivo, e o que importa é trazê-lo (você) de volta à vida. E a forma de fazer isso é descobrir, no seu caso pessoal, onde está a sua vida, e viver”.

“Ver, sentir, lembrar, esquecer”. Em desolada solidão de só viver de mundos mortos, fazemos do existir uma paralisia ativa – uma canção sem vida, por nunca ser percebida. Ao reler O livro do desassossego, meu livro de cabeceira, onde vou buscar lucidez e sabedoria, deparei-me com outra contradição (se é que um poeta, sendo vasto como Ele, não tem direito a contradizer-se, uma vez que sua alma antiga contém multidões).

Em ver com desconfiança o rigor mortis em que se mascaram os reformados (em sua maioria, cadáveres ativistas) Fernando Pessoa pensava como Krishnamurt, filósofo e místico que ele deve ter conhecido, uma vez que Pessoa era teósofo, tendo traduzido quase todas as obras de Anie Besant, que presidiu a Sociedade Teósofica Internacional. Está no Livro do Desassossego: “Se há uma coisa que odeio, é um reformador. Um reformador é um homem que vê os males superficiais do mundo e se propõe a curá-los, agravando os fundamentais. O médico tenta adaptar o doente ao corpo são. Mas nós não sabemos o que é corpo são e o que doente em nossa vida social. E, mais adiante, Pessoa, em estado de Bernardo Soares, verbera: “ O Governo assenta em duas coisas: refrear e enganar. O mal desses termos lantejoulados é que nem refreiam nem enganam. Embebedam, quando muito, e isto é outra cousa”.

Embora fosse Fernando Pessoa-Ele mesmo sabidamente um estudioso de ocultismo, o que está mais que revelado em sua poesia (vide apresentação de Nelly Novaes Coelho à edição de sua obra completa, pela Aguilar Editora). praticante de alta magia e fazedor de mapas astrológicos (para os outros e para si mesmo), utilizando o semi-heterônimo Bernardo Soares, o pluri-vate lusitano é taxativo em condenar o mau estilo dos mestres de sabedoria antiga que conhecia e amava.

Antes de transcrever o seu texto, comente-se: tão cioso era o poeta de seguir o que dizia o mapa astrológico que ele mesmo fazia para cada situação de sua vida, que chegou a desmarcar um encontro com a poetisa brasileira Cecília Meirelles, que ia conhecer, no hotel em que ela se achava hospedada. Ao descer, na hora combinada, Cecília, nossa excelsa e etérea poetisa, também versada em misticismo, encontrou um bilhete que lhe mandara Pessoa. Desculpava-se, não iria ao encontro, pois seu mapa astrológico lhe dizia não lhe dava bons prognósticos. Assim, por simples implicância dos astros, nossa diáfana e excelente poetisa viu-se privada de conhecer o bardo múltiplo incomum, capaz de ser muitos Nele mesmo.

Mas vamos ao protesto do poeta contra o mau estilo dos bruxos desencarnados: ‘O que sobretudo me impressiona, nesses mestres e sabedores do invisível é que, quando escrevem para nos sugerir ou contar seus mistérios, escrevem todos mal. Ofende-me o entendimento que um homem seja capaz de dominar o Diabo e não seja capaz de dominar a língua portuguesa. Por que há o comércio com os demônios de ser mais fácil que o comércio com a gramática? Quem, através de longos exercícios de atenção e de vontade, consegue, conforme diz, ter visões astrais, por que não pode, com menor dispêndio de uma e de outra, ter a visão da sintaxe? Que há no Dogma e no Ritual da Alta Magia que impida alguém de escrever – já não digo com clareza, pois pode ser que a obscuridade seja da lei oculta-, mas ao menos com elegância e fluidez, pois no abstruso as pode haver? Por que há de desgastar-se toda energia da alma no estudo da linguagem dos deuses, e não há de sobrar um reles com que se estude a cor e o ritmo da linguagem dos homens?”.

P.S. Como Pessoa era plural, muitos em um, podia dar-se à pachorra de entrar em debate até consigo mesmo. Direito assegurado a quem com plena consciência e direito, escreveu sobre si mesmo: “Existe em mim alguém melhor do que eu”.

* Brasigóis Felício é autor de diversos livros e um dos mais destacados poetas goianos da atualidade

quinta-feira, abril 10, 2008

NA ESCOLA MUNICIPAL FENAVINHO, DE BENTO GONÇALVES,
TODA TERÇA-FEIRA É DIA DE POESIA

Não é novidade para o mundo das letras que a cidade de Bento Gonçalves tem o maior índice de leitores de poesia de todo o país, fruto de inúmeras iniciativas criadas pelas escolas a partir da realização de eventos do porte do Congresso Brasileiro de Poesia e da Feira Municipal do Livro.
Nesta época do ano, quando a cidade se prepara para a realização de mais uma Feira do Livro, quarenta escolas desenvolvem atividades envolvendo alunos e escritores, sendo que a poesia predomina na maioria delas.
Na Escola Municipal Fenavinho, com o objetivo de atrair as crianças para a leitura, foi criado o projeto “Gente que lê”, totalmente focado na poesia, onde o texto que tem como características a expressão de sentimentos, rimas e, muitas vezes, o humor, servirá como meio para transformar a prática da leitura num hábito.
A partir do slogan “Toda terça tem poesia”, a escola instituiu o dia da semana para a realização de atividades. Nesta semana, o poeta enfocado foi José Paulo Paes, com o poema “Convite”, e as professoras vestiram-se de palhaços, representando a alegria, para dramatizar as várias formas em que a poesia pode se apresentar e o quanto ela pode divertir.
“A poesia é especial porque através dela podemos trabalhar os sentimentos e expressar emoções. Tem o objetivo de encantar, alegrar e transformar sentimentos em palavras”, afirma a Supervisora da escola, Professora Silvia Fernanda Di Bernardo, informando que no decorrer do ano os alunos trabalharão também com contos e histórias infantis.

terça-feira, abril 08, 2008

Foto: Fabiano Mazzotti
MENINAS QUE CRIARAM BIBLIOTECA COMUNITÁRIA SERÃO HOMENAGEADAS NA FEIRA DO LIVRO DE BENTO GONÇALVES

Durante a cerimônia de lançamento da 23ª FEIRA DO LIVRO DE BENTO GONÇALVES, realizada na noite de ontem nas dependências da Fundação Casa das Artes, a direção da Biblioteca Pública Castro Alves anunciou que as estudantes EMANUELE MARCON e THAINÁ TAVARES, ambas com dez anos, foram as escolhidas para receberem o troféu ADYLES ROS DE SOUZA, introduzido neste ano para homenagear o AMIGO DO LIVRO.
EMANUELE e THAINÁ são moradoras do Bairro Universitário e decidiram criar uma biblioteca comunitária no porão da casa de uma delas, a qual batizaram de BIBLIOTECA MARIO QUINTANA.
Reuniram os livros que tinham para começar o acervo e foram a campo: bateram de casa em casa do bairro pedindo doações de livros e comunicando que a Biblioteca estava à disposição de todos os moradores para o empréstimo gratuito de livros.
O acervo começou a crescer e hoje já passa dos mil volumes.
Atraído por uma reportagem publicada pelo jornal Gazeta, o presidente do Proyecto Cultural Sur/Brasil, Ademir Antonio Bacca, indicou o nome das meninas para concorrerem ao título de “Amigo do Livro/2008”, o qual foi acompanhado por outras pessoas que viram no gesto das meninas um grande incentivo à leitura.
Durante a solenidade de lançamento da 23ª Feira do Livrode Bento Gonçalves, o prefeito Alcindo Gabrielli e Ademir Antonio Bacca fizeram a entrega de kits de livros oferecidos pelo Congresso Brasileiro de Poesia e pela Editora Paulus às pequenas amigas do livro, conforme registro acima do fotógrafo Fabiano Mazzotti.
Agora, o Congresso Brasileiro de Poesia conclama a todos os escritores para que enviem suas colaborações para enriquecer o acervo da Biblioteca Mario Quintana, para o seguinte endereço:

Rua Ferrucio Fasolo, 141
Bairro Universitário
BENTO GONÇALVES – RS
95700-000